Letícia cresceu voando. Pelas asas do pai, conheceu histórias de quem viu o Pantanal de cima. Avião para ela nunca foi novidade, até porque, a cabine do piloto era quase como a extensão de casa.
Entretanto, foi inspirada pela primeira mulher da Polícia Militar a comandar uma aeronave que ela viu aflorar o sonho de pilotar. Letícia ainda era soldado da Polícia Militar quando viu a tenente-coronel Katiane Mustafá atuar como piloto.
“Meu pai a viu no aeroporto, e me falou: ‘olha, tem uma mulher PM que pilota, dá para você tentar também’. Mas eu era soldado, só oficial da PM que pode atuar como piloto de aeronave, e isso ficou adormecido”, descreve.
Depois de cinco anos como soldado, Letícia entrou no curso de formação de oficiais na Bahia, e voltou a Mato Grosso do Sul como aspirante. Na cidade de Corumbá, teve como a piloto como colega. “Foi aí que o mosquito da aviação me picou de vez. A tenente foi minha subcomandante”, completa.
O contato com o grupamento aéreo fez com que ela se apaixonasse ainda mais por voar. Do interesse veio a vontade de aprender, o curso teórico, a parte prática em 2020, e, enfim a habilitação. “Fiz a banca da Anac e depois da aprovação, solicitei transferência para a unidade aérea da Polícia Militar de Mato Grosso do Sul”, narra.
Decolagem
O primeiro voo foi em 2022, em uma missão em Ponta Porã. Desde então, Letícia vive para voar, isso porque existe todo um trabalho antes, durante e depois do voo.
“Preparo da aeronave, apoio de solo dos mecânicos, planejamento de voo, checagem da meteorologia. O voo é uma das fases, mas tudo isso envolve o trabalho para garantir a segurança da operação”.
Nos ares, Letícia tem como missão o transporte de autoridades, auxílio em incêndios e levar socorro a feridos nas áreas em que o acesso pode dificultar a rapidez no tratamento.
“Eu me imaginava nessa função, apesar de antes achar que era algo tão distante pra mim, hoje vejo que valeu a pena as etapas que passei”, reflete.
Letícia Escobar é capitã da Polícia Militar, atua como piloto na Coordenadoria Geral de Policiamento Aéreo de Mato Grosso do Sul, é mãe de Luísa, e hoje enxerga o exemplo que pode ser para outras mulheres.
“Ser mulher e piloto significa que podemos ser o que quiser e atuar nas mais diversas profissões, para mim, é motivo de muito orgulho, com certeza. Voar é muito bom, eu não consigo descrever, e nós, mulheres, devemos nos levantar, umas às outras, para cada vez mais conseguirmos espaço. A gente não se dá conta, mas a representatividade desperta sentimentos. Você olha e pensa ‘tem uma mulher ali, eu também posso conseguir!’”
Paulinha Maciulevicius, Setescc