“Sou uma, mas não sou só”, ao som de palmas e cantos, o plenário da Assembleia Legislativa foi palco para a discussão da saúde das mulheres com toda sua especificidade e diversidade.
O seminário, proposto pelas deputada estadual Gleice Jane, deputada federal Camila Jara e a vereadora Luiza Ribeiro, abriu espaço para diálogo, reflexão e troca de experiências de cada grupo de mulheres, contribuindo para a formação de políticas públicas mais equitativas, inclusivas e efetivas.
Compondo a mesa, a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Cristiane Sant’Anna ressaltou que a pasta também está neste processo de escuta, e vem participando em seminários junto à Secretaria de Estado de Saúde e também de discussões com a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves.
“Já há um grupo de trabalho do Ministério da Saúde, no qual a defensora Zeliana Sabala e eu estamos fazendo parte, com outras instituições e sociedade civil, para termos um olhar diferenciado para o atendimento da saúde às mulheres indígenas”, citou Cristiane, que também se colocou à disposição para ouvir e encaminhar demandas.
Uma das proponentes do seminário, a deputada estadual Gleice Jane enfatizou a preocupação que o mandato tem em ouvir as mulheres. “Este seminário é construído a partir das lutas das mulheres. Nós entendemos que as políticas públicas são construídas, o futuro é pensado agora, e precisamos ouvir quem está vivenciando as necessidades”, discursou.
Deputada federal, Camila Jara, explicou que o Governo Federal trabalha agora para reestruturar os setores que cuidam da saúde da mulher no Ministério da Saúde. “Este é o momento de nos unirmos para cobrarmos explicações, principalmente dos gestores locais, porque o Ministério da Saúde está se preparando para reverter este quadro, porque o Governo Federal entende que nós mulheres temos que ser a centralidade das políticas públicas, pois somos a maioria da população”, enfatizou.
Representando a coletiva Sempre Vivas, Camila Pereira Costa, falou o quão urgente é pensar a mulher no atendimento multidisciplinar. “A saúde da mulher deve ser vista como um conjunto de políticas e práticas, que a gente considere a nossa diversidade, a nossa pluralidade e a nossa singularidade garantindo acesso ao serviço de qualidade, respeitando a nossa individualidade e promovendo a nossa autonomia”.
Deputada federal pelo Distrito Federal, Érika Kokay participou remotamente do seminário, e enfatizou que a saúde da mulher não se restringe à maternidade nem tampouco deve compreender a mulher de forma generalista.
“É preciso considerar as mulheres trans, negras, indígenas, adolescentes, na terceira idade, em privação da liberdade”, listou a parlamentar ao dizer que as políticas públicas precisam abraçar as especificidades e diversidades. “Tudo isso precisa ser considerado. Nós não cabemos dentro de rótulos, porque a sociedade não é binária. Temos várias formas de sentir”, reforçou.
Durante o seminário, representantes de cada movimento deram sua contribuição para a reflexão. Presidente da ATMS (Associação das Travestis e Transexuais de Mato Grosso do Sul), Mikaella Lima chamou atenção para o fato de que pela primeira vez, em três décadas, a Antra (Associação Nacional de Travestis e Transexuais) começou a trabalhar a pauta das mulheres trans acima dos 60 anos.
“Nós não alcançamos esta idade. Infelizmente nosso país é o que mais mata trans no mundo, e a nossa expectativa de vida é de 35 anos de idade, enquanto a população em geral chega até os 75. Então, falar da saúde das mulheres trans, começa na falta de respeito do nome social, ali começa a definhar a nossa saúde, porque ao chegarmos aos postos é negado o nosso reconhecimento enquanto mulher na sociedade. Nós devemos pensar que todas as mulheres têm especificidades, e a gente não quer um tratamento especial, queremos o tratamento a que todas as pessoas têm direito”, expôs Mikaella.
Subsecretária de Políticas Públicas para Pessoas Idosas, Zirleide Barbosa também ocupou a tribuna para falar do aumento da expectativa de vida do brasileiro e a necessidade de se olhar para o envelhecimento com saúde e qualidade de vida.
“Seremos 25,5% da população com mais de 60 anos, isso quer dizer que quando sairmos às ruas, a cada quatro pessoas uma terá mais de 60, e a maioria dessas pessoas que estão envelhecendo são mulheres, mais um motivo para a gente pensar no que se diz respeito às diferenças, às desigualdades sociais e econômicas”, resumiu Zirleide.
Texto: Paula Maciulevicius, Setescc