O Mestre Cururueiro Sebastião de Souza Brandão tem lutado pela transmissão do conhecimento e difusão das técnicas que aprendeu ainda criança. Nasceu em 21 de janeiro de 1944, na região do Castelo, localizada no Pantanal de Corumbá/MS. É filho do Seo Inácio e da Dona Cirene e mantém viva uma tradição familiar. O universo dos saberes relacionados ao fazer do Cururu – que congrega não apenas as rodas e cantorias, mas também o modo de fazer dos instrumentos, viola de cocho, granzá e mocho, utilizados nas tocadas de Cururu e Siriri.
Possui reconhecimentos como Mestre da Cultura Popular (Ministério da Cultura: 2012 e 2019) e uma vida cheia de experiências com fazendas, ferrovia, prêmios, apresentações, filmes e muitas histórias para contar. “Foi de ontem para hoje que fizemos uma comemoração aqui no meu ranchinho, da minha data de aniversário, meus 80 anos. Foi um trecho de vida bem… como diz o ditado: uma hora estou em cima, outra hora estou embaixo, mas sempre seguindo em frente. Graças a Deus meu casamento deu certo, 51 anos. E sobre a cultura, eu sou viciado na nossa cultura, porque eu já nasci nesse berço dessa cultura, porque a minha família em peso, tanto do lado materno e paterno, todos tinham essa cultura, e é um legado que me deixaram que eu vivo feliz porque fiz muitas amizades, eu não era muito bem conhecido, tem muitos lugares que eu conto histórias de lá, talvez pessoas que já moraram lá nem lembram mais, mas eu lembro. Para mim, chegar aqui foi uma boa experiência de vida até agora”.
O senhor Sebastião de Souza Brandão, nascido no Castelo, região localizada nas imediações de Corumbá, desde cedo acompanhava o seu pai o senhor Inácio de Souza Brandão- mestre cururueiro reconhecido em toda localidade do Pantanal- que lhe ensinou as técnicas de confecção da viola de cocho e de como tocá-la. Sendo desta forma que, além de confeccionar e tocar a viola, aprendeu a dançar o cururu e siriri, por meio dos ensinamentos de seu pai, sua vivência e acompanhamento das festas tradicionais e religiosas.
Além disso, atuou na Empresa Ferroviária Noroeste do Brasil durante vários anos adquirindo assim vasta experiência como supervisor de via permanente, cuidava da manutenção da via férrea. Hoje já aposentado, continua a confeccionar viola de cocho em sua casa, também restaurando objetos de madeira, participa de eventos para divulgar seu ofício de confeccionar a viola de cocho, mais recentemente apresentou-se no Encontro Regional de Cururu e Siriri em Corumbá-MS e no São João Pantaneiro de Ladário – MS.
Por meio de encomendas vende algumas violas, e já realizou algumas doações de violas para instituições como IPHAN, MuHPan e até mesmo para o Museu do Índio em Brasília quando participou do “VII Encontro e Feira dos Povos do Cerrado 2012”. No ano de 2012 recebeu Prêmio Culturas Populares – 100 anos de Mazzaropi, foi reconhecido pelo Ministério da Cultura como Mestre do Saber: por deter o saber de confeccionar viola-de-cocho.
Em 2013 desenvolveu o projeto de Confecção de viola-de-cocho para 10 jovens de 18 a 29 anos, na Oficina de confecção de viola-de-cocho que possui em sua própria residência, recebeu incentivo financeiro do Edital da Funarte “Microprojetos da região do Pantanal”, possibilitando assim a transmissão dos seus conhecimentos por meio da oralidade à jovens ladarenses e corumbaenses.
“Eu me criei nesta cultura, passei um tempo fora dela, fui trabalhar em lugar que não tem ela, mas não esqueci. Quando voltei para casa fiquei novamente com essa cultura e continuo, quero ver se vou até um pouco pra frente com ela, quero passar para os netos para ver se eles dão continuação para isso aí. O jovem gosta muito mais do moderno, mas para mim está tudo bom, graças a Deus”.
As premiações e reconhecimentos só vinham crescendo, em 2014 foi contemplado no Edital Revelando os Brasis, do Instituto Marlin Azul, onde foram premiadas lendas urbanas contadas por moradores de municípios de até 20 mil habitantes, onde através da lenda do “Nos Trilhos do trem Fantasma” cotou em documentário, a lenda do locomotiva que saía da Estação Agente Inocêncio de não chegava até a estação de Porto Esperança. Tal documentário será exibido no ano de 2015, em várias cidades do interior do país, inclusive em Ladário.
Como resultado desse prêmio o Sr. Sebastião, recebeu ainda no ano de 2014 uma homenagem da Câmara Municipal de Campo Grande, em comemoração aos 100 anos da vinda da Ferrovia Noroeste do Brasil para MS, pelos serviços prestados à ferrovia e por ter sido premiado em um edital que relembra os tempos de glória e a história da Ferrovia em MS.
Além disso ministra palestras em escolas de Corumbá e Ladário, sobre seu ofício de confeccionar viola-de-cocho e apresenta-se em eventos realizados pela Fundação Municipal de Cultura de Ladário.
Karina Lima, Comunicação FCMS
Fotos: Daniel Reino/FCMS