Com objetivo de ouvir as demandas dos povos de terreiro e de matriz africana, nos dias 31 de outubro e 01 de novembro a Subsecretaria de Políticas Públicas para Promoção da Igualdade Racial, ligada à Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania) promoveu uma reunião ampliada, a fim de entender as necessidades, e planejar melhorias de Políticas Públicas.
A reunião teve como meta informar e desconstruir estereótipos, fortalecer a implementação de programas e políticas públicas que são direcionados aos povos de terreiro. Em todo o território tradicional, os valores de organização coletiva, incluindo a relação com o universo e o sagrado são oriundos de diferentes contextos culturais africanos. As práticas tradicionais de matrizes africanas reafirmam a dimensão histórica, social e cultural dos territórios negros constituídos no Brasil, dos quais a religiosidade e a religião, relação com o sagrado, são algumas das suas facetas.
A escuta ampliada faz parte do ODS 10 (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU (Organização das Nações Unidas), que são seguidos pelo plano de governo estadual. No artigo 2 da ODS 10, um dos objetivos é empoderar e promover a inclusão social, a partir de vários aspectos e dentre eles o aspecto religioso.
Visando a construção de uma carta com encaminhamentos e demandas das Comunidades de Matrizes Africanas e Terreiros presentes no encontro, foi realizado um trabalho em grupo a partir de discussões a respeito da situação socioeconômica e cultural das comunidades, trabalho e renda, educação, saúde e meio ambiente, cultura, racismo religioso e segurança.
De acordo com a Secretária Adjunta, Viviane Luiza, é necessário evidenciar pesquisadores negros, e ter responsabilidades enquanto pessoas brancas, para que dessa forma possa diminuir as desigualdades sociais impostas.
“Dentro da cidadania e na minha profissão, eu sou antropóloga, a escuta é o primeiro passo para entender os anseios de uma sociedade. E sem isso, nós não conseguimos fazer as políticas públicas de fato e de direito. Porque as políticas públicas realmente precisam começar a ser construídas na base, nós estamos seguindo o eixo do governo do estado que é não deixar ninguém para trás, nós temos que entender a importância de fazer de dentro para fora”.
Na ocasião, a Subsecretária de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, Vania Lucia, relatou que os protagonistas são os povos de terreiro, de matrizes africanas e quilombolas.
“Nós vamos ter a produção da carta onde poderemos escutar as demandas, tratar sobre educação, renda, trabalho, moradia, entre outros fatores. O diálogo é para que nós possamos efetivar as políticas públicas para toda a população de Mato Grosso do Sul, sem deixar ninguém para trás. Os povos de matrizes africanas e de terreiro não podem ficar para trás, porque há muito tempo estão para trás, o propósito é a inclusão de todos”, ressalta.
Para Igbakeji Oya Gbemi Ana, primeira secretária dos povos de terreiro Ajô Nile Confraria Oloya´s do Mato Grosso do Sul, é importante o estado oferecer essa escuta.
“É muito importante o estado nos dar esse espaço de fala, as pessoas talvez não tenham a dimensão do tamanho da nossa comunidade, nós sofremos o preconceito religioso inter-religioso e nós precisamos desmistificar a visão errônea que as pessoas têm sobre os povos de terreiro”, ressalta.
Antônio Borges é coordenador das 22 comunidades quilombolas, e ressalta a importância do olhar do governo do estado para a população quilombola.
“Foi importante mapear as comunidades que em 19 anos não eram nem mapeadas, não sabíamos quais existiam, só se falava em Furnas do Dionísio, Furnas da Boa Sorte e tia Eva, e as outras?”, indaga.
O mapeamento é uma das entregas do governo do estado. Por meio das escutas foi possível dar um passo na promoção de políticas públicas a fim de mitigar os preconceitos e a intolerância religiosa.
Bel Manvailer, Setescc
Fotos: Matheus Carvalho