MIS recebe exposição em homenagem aos 125 anos de nascimento de Lídia Baís

  • Publicado em 07 maio 2025 • por Lucas Castro •

  • Será inaugurada no dia 12 de maio, às 19 horas, no MIS (Museu da Imagem e do Som), em Campo Grande, a exposição “As várias faces de Lídia Baís”, em celebração aos 125 anos de nascimento da artista. A mostra integra a programação da Semana Nacional de Museus.

    Promovida pelo Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), a Semana Nacional de Museus de 2025 acontece de 12 a 18 de maio e tem como tema “O futuro dos museus em comunidades em rápida transformação”. O evento marca as comemorações pelo Dia Internacional dos Museus, celebrado em 18 de maio.

    A exposição reúne obras emblemáticas de Lídia Baís, sob a curadoria do MARCO (Museu de Arte Contemporânea), e busca destacar a trajetória e a relevância da artista para a cultura sul-mato-grossense.

    Lídia Baís é considerada uma das personalidades femininas mais importantes das artes visuais em Mato Grosso do Sul. Entre seus inúmeros méritos, destaca-se a persistência em produzir arte mesmo diante das limitações culturais impostas por sua terra natal. De origem italiana, nasceu em 1900 em Campo Grande, quando ainda era um pequeno vilarejo.

    Movida pelo desejo de romper com o isolamento cultural e com o apoio inicial da família, Lídia iniciou seus estudos em pintura no Rio de Janeiro com o renomado Henrique Bernardelli. Dessa fase, datam suas obras de cunho mais acadêmico, embora já apresentasse traços influenciados pela Semana de Arte Moderna de 1922, em São Paulo, refletidos em grande parte de sua produção.

    Em 1927, durante uma viagem à Europa, teve contato com importantes artistas e conheceu Ismael Nery, precursor do surrealismo no Brasil, cuja amizade e obra exerceram grande influência sobre ela. Ao retornar ao Brasil, retomou os estudos com os irmãos Bernardelli e com Oswaldo Teixeira, realizando, em 1929, uma exposição individual na Policlínica do Rio de Janeiro.

    Entretanto, incompreendida e pressionada pela família, Lídia voltou para Campo Grande, onde, à época, esperava-se que as mulheres se limitassem aos afazeres domésticos e ao casamento. Suas ideias e produções artísticas transcendiam a compreensão da sociedade local. Sentindo-se enclausurada, passou a pintar alegorias nas paredes do sobrado da família. Com a trágica morte do pai e em meio a um ambiente cultural adverso, Lídia se enfraquecia emocionalmente. Encontrava forças em sua espiritualidade, nas estrelas e em questões existenciais para continuar criando. Seu universo íntimo, revelado em escritos, diários, desenhos e pinturas, expressa as múltiplas facetas de sua identidade artística. Sua incessante busca por uma estética singular e por um sentido para a vida a transformaram em uma criadora incansável.

    Lídia também encontrou consolo nas religiões e considerava a arte uma expressão sagrada e libertadora. Determinada, idealizou a criação de um museu de arte em uma Campo Grande que ainda não dispunha de energia elétrica. A ousadia e a dimensão política desse gesto, realizado na década de 1950, não podem ser subestimadas. Embora não tenha concretizado o sonho do Museu Baís, jamais deixou de acreditar na importância e na força transformadora da arte. Hoje, sua visão ganha contornos reais graças ao trabalho de pessoas que, assim como ela, defendem a arte e a cultura como pilares fundamentais para o desenvolvimento da sociedade.

    Mesmo resignada à realidade de sua cidade natal, Lídia conservava a esperança de que, no futuro, sua obra fosse compreendida. Faleceu em 19 de outubro de 1985, vítima de esclerose múltipla, sozinha em uma casa repleta de animais e obras de arte encaixotadas. Contava apenas com a presença de alguns poucos fiéis, entre eles a sobrinha Nelly Martins, que, antevendo o valor de sua produção, promoveu exposições enquanto a artista ainda era viva. Com o apoio da família, Nelly organizou e doou o acervo de Lídia à Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. Desde 1991, o Museu de Arte Contemporânea de Mato Grosso do Sul tem a honra de preservar esse valioso acervo.

    Para o diretor-presidente da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul, Eduardo Mendes, “essa mostra oferece ao público a oportunidade de se aproximar da produção de Lídia Baís de maneira sensível e educativa, promovendo experiências que estimulam o olhar crítico, a reflexão sobre pertencimento e o reconhecimento de narrativas que, muitas vezes, foram invisibilizadas na história da arte brasileira”.

    A coordenadora do MARCO, Vera Bento, ressalta que a parceria entre o MIS e o MARCO reforça o papel dos museus como espaços vivos de memória, criação e formação crítica. “Lídia Baís é figura central na história da arte sul-mato-grossense. Com uma trajetória marcada por ousadia estética, inquietação espiritual e profunda consciência de seu tempo, construiu uma obra singular que articula elementos do sagrado, do feminino e da ancestralidade em composições densas e simbólicas. Ao valorizar suas raízes familiares e questionar padrões sociais, Lídia rompeu silêncios impostos às mulheres e consolidou uma linguagem própria, com forte valor identitário”, afirma.

    A exposição permanecerá aberta à visitação até o dia 30 de junho, de segunda a sexta-feira, das 7h30 às 17h30, no Museu da Imagem e do Som, localizado no 3º andar do Memorial da Cultura e da Cidadania, na Avenida Fernando Corrêa da Costa, 559, Centro de Campo Grande.

    Karina Lima, Comunicação Setesc
    Foto: acervo MARCO

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