Publicado em 02 out 2023 • por Thais Lima Bacchi de Araujo •
Um diálogo aberto para contribuições, propostas de melhorias e uma avaliação geral de como são os serviços do SUS prestados aos povos indígenas, pessoas idosas e quilombolas em seus territórios. Na última sexta-feira (29), a Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania) esteve debatendo as vivências durante o 1º Encontro de Territórios Integrados de Atenção à Saúde de Campo Grande: Ensino em Serviço no SUS e Diversidade, realizado na Unigran.
O encontro trouxe para a discussão os processos de Ensino e Serviço disponibilizados pelo SUS, mostrando um panorama geral dos avanços obtidos na Capital, além de fomentar novas ideias e processos no âmbito nacional.
Subsecretário de Políticas Públicas para os Povos Originários, Fernando Souza, compartilhou sua experiência relembrando que é militante do SUS desde o início da sua criação, na década de 1990. Em sua fala, Fernando disse que apenas em 1999, quase 10 anos depois da implantação do Sistema Único de Saúde, é que a saúde indígena foi organizada como um subsistema.
“Nós passamos a ter assistência e saúde pública dentro dos territórios a partir dos anos 2000, então isso é muito recente para nós ainda. Costumo dizer que precisou fazer um recorte étnico observando as especificidades das populações indígenas para termos acesso ao SUS”, coloca o subsecretário.
Hoje, segundo o Censo do IBGE 2022, só em Campo Grande são 18 mil indígenas, população que chega a ser maior do que o total de 42 municípios de Mato Grosso do Sul. “Das 79 cidades que o nosso Estado tem, 42 não têm 18 mil habitantes. Logo, temos dentro de Campo Grande uma cidade, e esta população indígena exige e quer um atendimento específico e referenciado que respeite o modo de ser indígena, seja qual for a etnia, especialmente no quesito linguística”, apontou Fernando.

Com mediação feita pelo Teias (Territórios Integrados de Atenção à Saúde) de Campo Grande, mesa teve participação do coordenador do Dsei, Arildo Alves Alcântara, subsecretário de Povos Originários, Fernando Souza, subsecretária de Pessoas Idosas, Zirleide Barbosa, técnica da subsecretaria de Igualdade Racial, Romilda Pizani e a gerente da UBS São Benedito, Sandra Mara. (Foto: Divulgação)
De contribuição, o subsecretário pontuou que é preciso dentro do SUS haver um olhar acerca da especificidade indígena, além de um mecanismo de acolhimento e escuta deste público. “Sugiro ter um núcleo de saúde indígena dentro da Sesau que dialogue com as unidades básicas de saúde onde então os nossos parentes indígenas. O que não pode é continuar inviabilizando este público de 18 mil cidadãos que estão em Campo Grande, que vieram para cá em busca de melhorias, seja profissional, educacional. Não é porque ele está na cidade que deixou de ser indígena”, frisa.
Em seu momento de colocações, a subsecretária de Políticas Públicas para Pessoas Idosas, Zirleide Barbosa, ressaltou que este ano a pasta se aproximou das Secretarias de Saúde, tanto municipal quanto estadual, e vem desenvolvendo projetos em conjunto.
“Em todas as oportunidades que temos, estamos falando para as pessoas sobre a importância do fortalecimento do SUS, e eu gostaria de deixar aqui a proposta de fazermos campanhas quanto à vacinação, porque sabemos que muitas pessoas idosas deixaram de se vacinar”, destacou Zirleide.
A subsecretária também chamou a atenção para o fato de que o atendimento prioritário não vem sendo respeitado nas unidades de saúde. “Existiu um tempo em que isso era bem observado, mas nestes últimos anos, com as mudanças nas relações com as pessoas idosas, elas deixaram de ser vistas como quem precisava de atendimento prioritário, e isso é gritante. Precisamos falar muito sobre isso”, enfatiza.
Dentro da transversalidade proposta pelo Governo do Estado, as subsecretarias da pasta de Cidadania vem executando ações em conjunto, uma delas é o projeto “Envelhecer”, que tem escutado como é envelhecer nos territórios indígenas, quilombolas, de terreiro e povos ciganos. “Nós já fizemos uma escuta na aldeia indígena, e é muito interessante. Será um projeto muito bom para entregar a vocês em relação à saúde, porque vem aparecendo muitas questões”, completa Zirleide.

Do evento sairá relatório com as contribuições de cada vivência do SUS nos territórios indígenas, da pessoa idosa e quilombolas. (Foto: Divulgação)
Representando a Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, a técnica Romilda Pizani pontuou que a pasta vem trabalhando para que as políticas públicas voltadas para a população negra sejam implementadas de fato.
Entre as contribuições e propostas, Romilda fez questão de enfatizar que é preciso sensibilizar os profissionais para que o atendimento seja feito de forma humanizada e completa. “Nós estamos falando de uma população negra que não é olhada a partir das suas especificidades. Temos um número expressivo de hipertensão, anemia falciforme, que são coisas que ainda não estão evidenciadas neste País, e isso precisa ser retomado, inclusive para contribuir para que os profissionais tenham a sensibilidade de olhar estas questões”, descreveu Romilda.
A técnica da Subsecretaria da Igualdade Racial também trouxe o exemplo de que as mulheres negras são as que mais sofrem violência obstétrica. Discussão que remete ao racismo estrutural.
“Saiu uma estatística recentemente onde uma consulta com uma pessoa negra demora, em média, 7 minutos, e com uma pessoa não negra, pelo menos 15 minutos. E isso é gritante e nós precisamos conversar sobre o SUS, trazer a discussão sobre a oportunidade de acesso à dignidade deste grupo, além da qualificação dos profissionais sobre a questão do racismo e como isso pode mudar”, resumiu Romilda.
A mesa redonda abriu espaço também para as colocações dos usuários do SUS. As contribuições serão reunidas em um relatório que será enviado às esferas governamentais que têm a incumbência de fazer as políticas públicas do SUS.
Paula Maciulevicius, da Setescc