A noite desta quarta-feira (28) marcou não só o lançamento da Superintendência de Economia Criativa como também o compromisso do Governo do Estado de Mato Grosso do Sul em impulsionar o setor e apresentar o Plano Estadual de Economia Criativa.
Em uma verdadeira aula, a especialista no assunto, Cláudia Sousa Leitão, que veio a Campo Grande lançar o livro “Criatividade e emancipação nas comunidades-rede – Contribuições para uma economia criativa brasileira”, ressaltou o quanto o Estado tem potencial, mas que é necessário traçar políticas públicas.
“É preciso fomentar os pequenos, é preciso microcrédito orientado, recursos de natureza jurídica para controlar essas dinâmicas econômicas de criar, produzir, distribuir, difundir, consumir, é preciso educação”, elencou Cláudia.
A especialista levou o público presente no auditório do Sebrae à reflexão ao questionar quais produtos daqui, de Mato Grosso do Sul, são consumidos e ofertados para quem vem de fora.
“Quais são os bens e serviços que estão à disposição na prateleira? Ou a gente está aqui como consumidor passivo de produto internacional? Triste destino de um País que não se reconhece pela própria riqueza. A verdade é que o Brasil é tão grande que ele tem mercado dentro dele, e a gente poderia ter uma economia criativa até sem exportação, bastava que fizéssemos circular nossos próprios produtos”, disse.
No livro, a autora também traz a contribuição do ex-secretário de Cultura Cidadã e de Desenvolvimento Social de Medellín, na Colômbia, Jorge Melguizo, e chama atenção para o que classifica como o melhor da América Latina, a cultura e a natureza.
“É o que temos de melhor, e se pensarmos na América Latina, na biodiversidade cultural que nós temos para dar e vender, por que isso não é tão presente nos planos de desenvolvimento dos governos federais, estaduais e municipais?”
Pesquisadora do tema, Cláudia trouxe considerações acerca da invisibilidade das pessoas que fazem a economia criativa e o quanto elas precisam ser trazidas, pelo poder público, para o protagonismo.
“90% da economia criativa da América Latina é informal. O que você faz é economia criativa, mas ninguém te vê e nós precisamos entender isso, que a cultura não é só arte nem só patrimônios históricos, festas, é muito mais, é o que nos permite conviver. Somos o País da música, das artesanias, da dança, do design, da publicidade, arquitetura e urbanismo e tudo isso é setor criativo”, explicou Cláudia.
Economia Criativa em MS
Durante o evento, uma amostra do que Campo Grande produz de economia criativa foi organizada em uma pequena feira no saguão do Sebrae. Um dos expositores era Kossi Ezou, da marca “Ayele Tissu” que está presente em todas as feiras da Capital.
Nascido do Togo, oeste da África, ele está em Mato Grosso do Sul há 10 anos, seis deles se dedicando à marca de roupas e acessórios que criou.
“A ideia surgiu de forma orgânica, eu sou africano, e trouxe minhas roupas. O pessoal começou a gostar, no início eu oferecia o que tinha, mas com o tempo minha mãe que vende tecidos lá e meu primo que tem uma confecção passaram a fazer e eu comecei a trazer a pronta entrega. Faço a curadoria, penso no modelo, e trago”, descreve.
Sobre o tema, Kossi diz timidamente que, em seu entendimento, a economia criativa envolve o trabalho regional de artistas locais. “Acredito que seja criatividade, inovação, é isso que eu penso quando economia criativa vem à minha cabeça”.
Superintendente de Economia Criativa de Mato Grosso do Sul e anfitrião do evento, Décio Coutinho afirmou que a pasta está trabalhando na estruturação do plano estadual, documento que vai traçar diretrizes para as ações em todo Mato Grosso do Sul dentro da perspectiva de, parafraseando Manoel de Barros, “transver o mundo”.
“Precisamos trabalhar nosso olhar e as leis que a gente tem usado para enxergar o que nos cercam, e acho que meu papel aqui em Mato Grosso do Sul é conseguir trabalhar este novo olhar sobre toda essa riqueza que vocês já têm aqui”, avaliou.
Titular da Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania), Marcelo Ferreira Miranda enfatizou que a economia criativa é a aposta de Mato Grosso do Sul. “Os quatro pilares do Governo Eduardo Riedel descrevem exatamente isso: verde, digital, próspero e inclusivo. O que tem tudo a ver com a economia criativa. É um desafio muito grande, mas estamos aqui e contamos com parceiros nesta”, declarou Miranda.
Doutor e docente do mestrado em Desenvolvimento Regional e de Sistemas Produtivos da UEMS, Carlos Otávio Zamberlan enxerga como positiva a discussão e a criação de políticas públicas que fomentem a economia criativa. “Tudo o que nós temos de conhecimento é cultura. E a cultura é algo que faz com que nós tenhamos a possibilidade de enxergar e julgar o que acontece ao nosso redor, e a economia criativa vem ao encontro disso, de aproveitar a cultura diversa de Mato Grosso do Sul”, comentou.
Representante do Sebrae, Daniele Muniz destacou como a economia criativa dialoga com os mais diversos setores de mercado. “Isso está impregnado aqui no Mato Grosso do Sul. Nós enxergamos a economia criativa desta forma, como negócio, e o futuro do mercado é colaborativo. Estamos juntos e em rede para fazer uma economia criativa e emancipada”.
Paula Maciulevicius, da Setescc