A ação de cidadania chamada Kunã Mbarete, que traduzido do guarani significa “mulher forte”, realizada nas aldeias Água Bonita, no Tarsila do Amaral, e Darcy Ribeiro, no Jardim Noroeste, no último dia 9 e 10 de agosto, marcam a programação do Agosto Lilás, campanha do Governo do Estado de enfrentamento à violência contra a mulher.
Promovida pela Setescc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania) em parceria com a Prefeitura Municipal de Campo Grande, a ação levou até as regiões encaminhamento para o mercado de trabalho, atendimento odontológico, vacinação, testes rápidos, e orientações sobre violência doméstica e familiar, além da possibilidade de registro de ocorrências.
Os atendimentos foram voltados ao público indígena da comunidade, mas aberto a toda a população, e mostra a aproximação que a pasta da cidadania quer ter com o público.
Secretária-adjunta de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania, Viviane Luiza explica que a ação não será pontual. “Vamos fazer isso ao longo dos quatro anos. O governador sempre nos coloca esse direcionamento, de trabalhar a transversalidade, e nós estamos aqui nesta ação de cidadania entregando para a sociedade o que nós fazemos de melhor, que são os serviços pela comunidade”, frisa.
Em comemoração ao Agosto Lilás, a Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres, juntamente com a Deam (Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher) esteve presente para falar sobre a violência doméstica e familiar, passar orientações e realizar atendimentos referentes ao registro de boletim de ocorrência e pedido de medida protetiva.
Titular da Deam, a delegada Elaine Benicasa enfatiza que em mais de 10 anos de Polícia Civil, esta é a primeira vez que a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher vai até os povos indígenas de contexto urbano.
“Quero dizer para vocês que nós estamos aqui de coração aberto, e queremos trazer vocês para perto. As ações que a delegacia faz e que o Estado proporciona são para todas as mulheres”, destaca.
Técnica da Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres, e indígena terena, Gisele Francelino foi a porta-voz da pasta nas comunidades. “Estamos aqui trazendo orientações, informações, porque o índice de violência a gente que é muito grande dentro das comunidades, e que infelizmente poucas mulheres procuram para denunciar”, explica.
Para quem já esteve no lugar de vítima, ver os serviços de cidadania, em especial de atendimento à mulher, irem até a comunidade é visto como acolhimento.
Violência contra a mulher
Aos 39 anos, a dona de casa carrega na face a cicatriz da violência sofrida, uma marca que lhe rasga a testa. “Sofri violência por 16 anos. Me empoderei quando eu cansei de apanhar. Ele me falava: ‘eu vou te mandar’, mas eu pensava que ele não teria coragem, porque a gente tinha três filhos”, recorda a indígena.
Até que há pouco mais de três anos, aconteceu o último episódio. “Quando eu me olho no espelho, vou falar a verdade, me dá uma raiva tremenda. Mas foi onde eu criei coragem de dizer que não queria mais, de denunciar, pedir medida protetiva, ele ficou de tornozeleira. Tive que tomar uma atitude, porque minha mãe, meus irmãos, ninguém poderia fazer isso por mim”, conta.
Ver de perto a delegacia indo até a comunidade fez com que a mulher lembrasse de toda a história. “Foi que nem a policial falou lá dentro, nunca teve esse tipo de evento aqui, com eles presentes. Geralmente a polícia vem quando denunciam, quando a gente chama. Então, eu acho que é muito importante, eu espero que essas mulheres que sofrem violência, que eu conheço inclusive na minha família, tenham coragem de denunciar, assim como eu tive”.
Encaminhamento para mercado de trabalho
Além dos atendimentos de saúde, o público encontrou à disposição o atendimento da Funtrab, agência estadual de empregos, que ofertou vagas para que interessados já saíssem de lá com o encaminhamento em mãos.
Laís Santana Soares, de 23 anos, aguardava para tirar uma carta de encaminhamento para vaga de serviços gerais. “Eu estou parada, e vim tentar uma vaga. Agora é só levar o currículo lá e esperar começar. O bom deles virem até aqui é porque às vezes a gente não tem como ir até o Centro e pode perder uma oportunidade”, fala.
Cacique da aldeia Darcy Ribeiro, Abel de Almeida ressalta que são pelo menos 300 moradores na região. “Estas ações são essenciais porque o nosso povo indígena tem dificuldade de procurar os serviços, e por vocês estarem aqui próximos de casa, faz com que a maioria seja atendida”, resume.
Nos dois dias de ação foram atendidas cerca de 200 pessoas.
Paula Maciulevicius, da Setescc