Mesa diretora composta por indígenas e autoridades, do lado dos homenageados, povos originários de Mato Grosso do Sul e, na plateia, familiares e amigos orgulhosos de celebrar o primeiro Dia dos Povos Indígenas em uma sessão solene na Câmara Municipal de Vereadores de Campo Grande.
O 19 de abril lotou o plenário, arrancou aplausos e palavras de lutas pelos direitos indígenas. Na solenidade, vereadores da Capital homenagearam 37 indígenas com o troféu “Domingos Veríssimo Marcos”, em comemoração ao Dia Municipal da Consciência dos Povos Originários.
Quando o cerimonial anunciava o currículo de cada homenageado, descrevia luta, formação e sonhos e fazia com que familiares corressem para fotografar. De volta aos assentos, o que se ouvia era “esta é minha filha”.
“É o primeiro Dia dos Povos Indígenas, dos Povos Originários, esta data tem um significado bastante importante para nós, porque não só agora, mas especialmente em abril, fazemos uma reflexão de toda a conjuntura, os avanços e os pontos que ainda precisam levantar”, ressalta o subsecretário de Políticas Públicas para Povos Originários, Fernando da Silva Souza.
Compondo a mesa diretora e como homenageado, Fernando relembrou a própria história ao falar das políticas públicas que lhe alcançaram e pelas quais ele segue trabalhando.
“Na minha geração, não tínhamos escola dentro das comunidades indígenas. A maioria hoje é analfabeta, porque não teve a oportunidade que eu tive, de ir a pé, andar 10 quilômetros, descalço em busca da formação básica. Hoje a gente tem escolas na maioria das comunidades, temos unidades de saúde”, compartilhou.
O subsecretário reforçou ainda que há três décadas seria “impossível ver políticas públicas acontecendo dentro dos territórios indígenas”, e hoje cidadãos indígenas ocupam espaços importantes nos municípios, no Estado e no Governo Federal.
“Obviamente, isso parte da luta de lideranças indígenas que nos antecederam para que as políticas públicas básicas estivessem dentro das nossas comunidades e a gente pudesse estar aqui nesse espaço hoje. Quero parabenizar as autoridades aqui presentes e os cidadãos indígenas que carregam nossa história, garra e luta”, completa Fernando.
Uma das homenageadas mais aplaudidas foi uma pequena grande senhora, de cabelos compridos, encaracoladinhos, que levantou usando a bolsa que já é sua marca, a guató dona Catarina Ramos.
“Eu estou nas nuvens. De alegria, parece que eu estou subindo… Sabe o que eu queria mais? Que tivesse mais guatós aqui, mais oportunidades para eles. Será que ano que vem não dá para ir buscar eles?”, pediu. “Porque eu fico alegre, mas triste deles não estarem aqui”.
A solenidade da noite foi proposta pela vereadora Luiza Ribeiro que narrou os passos desde a escolha dos vereadores pelos homenageados até a sessão solene. “Todos nós quando vamos falar dessa sessão, já nos mobilizamos em torno de conversar com as pessoas e lembrar aquelas lideranças que ajudam Campo Grande a ser melhor, é isso que a gente homenageia”, pontuou.
Em sua fala de agradecimentos, Luiza Ribeiro enfatizou que a Casa de Leis está aberta e deve ser ocupada pelos indígenas. “Nós queremos que o cidadão indígena esteja aqui, interferindo nas nossas discussões, interferindo na construção dessa cidade e fazendo com que o legislativo trabalhe para que a vida das pessoas indígenas seja melhor”.
Representando o governador Eduardo Riedel, a secretária adjunta de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania, Luiza Ribeiro, classificou o dia 19 de abril como uma data de resistência e reconhecimento.
“A luta dos povos indígenas é a luta de todos nós. Esta ação é o reconhecimento e empoderamento das populações indígenas do Mato Grosso do Sul. Nós sabemos que temos a segunda maior população indígena, então, pensando nisso, vamos olhar com todo o cuidado, todas as especificidades, para com o protagonismo deles, criarmos programas de políticas públicas”.