Kely Zerial, negra, miscigenada, produtora cultural, arte-educadora, atriz, artista visual, empreendedora e dona da empresa Guavira Soluções Artísticas. A artista campo-grandense que já produziu e atuou em diversos espetáculos teatrais, festivais e saraus entende, desde criança, o que é ser uma mulher preta, devido aos preconceitos.
Seus pais tiveram pouco estudo, por isso incentivaram ela e os irmãos a estudar, era a única forma de ascender socialmente e ter independência. Aos 13 anos começou a ter interesse pela arte, cultura e fazer teatro na escola. Teve uma infância muito pobre, mas também muito alegre e divertida, sem deixar que os preconceitos e sofrimentos a fizessem desistir. Mesmo tendo que dividir o mesmo pão francês com os quatro irmãos no café da manhã, ela relata que viveu uma infância tranquila na rua com menos violência e comendo frutas da época.
O currículo de Kely é diversificado e retrata um pouco do que foi a trajetória profissional até ela se tornar artista e empreendedora. Quando jovem, ela relata que era só se aproximar da arte e do teatro, que vinha o receio dos pais, o medo de que a área não trouxesse retorno financeiro à filha.
Kely trabalhou no administrativo de empresas e foi até bancária, o que a distanciou cada vez mais de trabalhar com o que sonhava. O sentimento era de derrota e frustração, que foram somados à pressão que a jovem sentia. “Por ser mulher, sempre tive a necessidade de me provar, provar que eu estava dando certo, que era capaz”, recorda a empresária.
Se de um lado as experiências administrativas não eram o que ela gostaria de seguir, foi justamente aprender a administrar e a fazer cálculos que a tornaram uma profissional mais completa.
Sua vida também é marcada por peculiaridades, como os cinco anos vividos em um convento. O objetivo era, nas palavras de Kely, “salvar o mundo”. À época, a arte-educadora estudou não só a bíblia toda como também a chamada “mariologia”, que são as “Marias” de diversas religiões e continentes. Kely foi também arte-educadora em uma comunidade Quilombola, onde teve interesse em aprender sobre religiões de matrizes africanas e outras religiões.
Por fim, a artista decidiu não seguir no convento, mas trabalhar a fé por meio da arte, vendendo “ideias” para as pessoas, e também as colocando em prática.
Empreendedora
Como precisava ganhar dinheiro, para ajudar em casa, por ser de uma família muito pobre, Kely teve a ideia de começar a empreender. Optou justamente pela veia artística e começou do zero, montando a empresa de produção cultural Guavira Soluções Artísticas, e pôde finalmente trabalhar com o que sonhava.
Hoje, produz eventos em todo o Estado para diversas empresas e até mesmo uma multinacional. Apesar das coisas não terem sido lineares na vida da empresária, com o tempo ela voltou para as suas origens. “Eu sou tudo aquilo que planejei, mas os caminhos nunca foram desenhados por mim”, comenta a artista.
A produtora sonha em oferecer cursos de educação financeira para mulheres e meninas, justamente por não ter aprendido sobre finanças enquanto jovem, o que acredita que teria feito diferença em sua caminhada profissional. Uma das ambições da artista é a de receber o preço que acredita que seu trabalho vale.
Kely é uma mulher forte que quer dar espaço e voz para outras mulheres como ela, por meio da arte, cultura e empreendedorismo. A sua coragem em seguir o caminho do empreendedorismo é admirável por ser uma área difícil que necessita de esperteza e estratégia, o que a artista tem de sobra.
Kely Zerial atualmente produz o Quintal Sesc, por meio de sua empresa Guavira S.A, a qual tem a proposta de solucionar artisticamente temas difíceis de serem trabalhados em empresas ou eventos, com criatividade.
Inaugurado em outubro de 2022, o Quintal Sesc tem o intuito de promover a cultura sul-mato-grossense e levar momentos de lazer e bem-estar para as pessoas. O espaço fica no estacionamento da Riachuelo, no Shopping Campo Grande, é gratuito para todas as pessoas, e acontece às sextas-feiras das 17h às 22h.
Bel Manvailer, Setescc