A construção de políticas públicas que passam pelo diálogo, desde ouvir demandas, coletar sugestões até implementar projetos que atendam às particularidades de cada região. Mato Grosso do Sul entrou na rota das agendas da Secretaria Nacional da Pessoa Idosa do MDHC (Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania), que vem percorrendo todo o País no mês de outubro, quando se comemora o Dia Internacional da Pessoa Idosa e também os 20 anos do estatuto.
No último dia 25, o auditório do LAC (Laboratório de Análises Clínicas) da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) lotou. Gestores, sociedade civil, representantes de conselhos e entidades, Governo do Estado e Governo Federal estiveram discutindo o envelhecer, a promoção e a defesa dos direitos das pessoas idosas no Mato Grosso do Sul.
Anfitriã do evento, a subsecretária de Políticas Públicas para a Pessoa Idosa, Zirleide Barbosa, citou na abertura o quanto o evento contava com um público representativo, e principalmente gestores do interior do Estado.
“Sabemos que os municípios passam por um momento de fechamento de contas e ajustes, e mesmo assim as prefeituras fizeram um esforço enorme, e a maioria dos municípios estão aqui. Isso quer dizer que o Estado de Mato Grosso do Sul se preocupa com a política da pessoa idosa”, destacou Zirleide.
Para a secretária-adjunta de Estado de Turismo, Esporte, Cultura e Cidadania, Viviane Luiza, debater o envelhecimento é fundamental no fortalecimento das políticas públicas para garantir os direitos à cidadania das pessoas idosas.
“Temos de olhar para estas pessoas, porque envelhecer é uma arte. Quando se envelhece, se carrega história, tradição, o pertencimento à sociedade. Este olhar também tem que ser de inclusão e de empatia, de se colocar no lugar do outro, porque é onde nós vamos chegar. Então, precisamos realmente fortalecer as redes de atendimento, e mostrar que o Estado está olhando também para esse recorte social que é das pessoas idosas, que a cidadania realmente olha para todos sem distinção”.
Envelhecer como Arte
A abertura do evento contou com a apresentação do “Encanto Coral” da Terceira Idade, um projeto independente com integrantes a partir de 50 anos que tem como premissa trabalhar, através da voz, o resgate da descoberta de potencialidades e do prazer de se expressar, além de oferecer uma oportunidade a mais para aquelas pessoas que não querem parar no tempo.
Na fala dos parceiros na luta pelos direitos da pessoa idosa, como a defensora pública e coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública de MS, Thaísa Defante, o deputado estadual e coordenador da Frente Parlamentar em Defesa dos Direitos da Pessoa Idosa, Renato Câmara, e da vereadora de Campo Grande, Luiza Ribeiro, foi unânime o pensamento de que é preciso discutir o fortalecimento de toda a rede de atendimento.
Governo Federal
Secretário Nacional da Pessoa Idosa do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, Alexandre da Silva, apresentou as ações do Governo Federal voltadas à pessoa idosa dentro das perspectivas: arte, privilégios e desafios.
“Quero convidar todos e todas para que nós possamos, nos próximos minutos, envelhecermos juntos. Cronologicamente é isso que vai acontecer, a gente está saindo de um tempo e vamos chegar no outro”, iniciou Alexandre.
Ao fazer o convite para pensar no envelhecer como arte, o secretário nacional afirma que envelhecer garante a possibilidade da gente se conhecer. “A gente só consegue aprender coisas, rever pontos porque estamos envelhecendo. Se não estivéssemos, não teríamos essas oportunidades”, enfatiza.
Sob a perspectiva de privilégio, Alexandre Silva traz o contexto da convivência entre gerações, de bisavós dividindo a mesa com crianças. “Mas também podemos pensar o privilégio de ter a casa própria, de ver como privilégio a questão da pessoa idosa ter os seus familiares bem empregados, de nascer, amadurecer e morrer com todos os direitos assegurados em qualquer parte do mundo”.
Ao traçar os desafios, o secretário nacional encara o envelhecimento como conquista e não “problema”, principalmente quando os dados mostram que hoje o Brasil tem 15% da população acima de 60 anos. “Isso não é um problema, muito pelo contrário, é uma conquista. Agora todos aqui precisamos assumir a nossa responsabilidade em não ter construído, enquanto sociedade, as ações e as políticas para que nós não tivéssemos hoje alguns problemas urgentes para discutir”.
Alexandre Silva enfatizou que o grande desafio do Governo Federal é pensar o envelhecimento em todo o País, e ter ações de equidade para todas as pessoas que mais precisam de ajuda e que não estão conseguindo envelhecer.
“A gente tem hoje um desafio muito grande que é tentar resgatar os programas, as ações possíveis realizadas em linhas anteriores e construir novos programas para que vocês possam perceber onde vocês estão exigindo tanto do Governo Federal, quanto do Estadual e em articulação com as prefeituras”.
Uma das idosas mais militantes e presentes nas discussões a respeito de direitos e cidadania, a trovadora Terezinha Pantaneira, de 75 anos, questionou o secretário nacional quanto aos projetos de habitação voltados para a pessoa idosa.
“Nós, idosos de hoje, somos a geração juventude de 60. A geração que quebrou os padrões, a geração hippie, que saiu com a mochila nas costas, que buscou a quebra da estrutura familiar, e agora que nós envelhecemos, não cabe na minha cabeça eu ter que ir para a casa de um filho, ter que comer nos horário que eles comem, ter que dormir na hora que eles dormem, porque eles são os donos da casa. A minha independência, a minha liberdade, ela é necessária até quando eu puder raciocinar”, desabafou.
A trovadora fez questão de apelar ao secretário nacional para que interceda junto às demais pastas na implantação do aluguel social destinado às pessoas idosas. “Não é uma questão pessoal minha, essa é a questão da nossa geração e ela precisa ser pensada. Minha sugestão é um sistema de aluguel social ou a construção de condomínios para idosos”, sugeriu Terezinha.
Em resposta, Alexandre Silva disse que a ação está começando por Salvador, Bahia, e que este também vem sendo um ponto trabalhado pela Secretaria Nacional articulado às demais pastas.
“Estou aqui colocando todo mundo para refletir qual é o nosso papel dentro dessa construção da linha de cuidado. O que existe nos municípios, nos territórios, e o que está faltando? Precisamos pensar quais são os equipamentos que estão faltando, quais são os equipamentos que precisam de mais investimento e quais eu consigo fazer um investimento menor com resultado maior. Nós temos que entender que a nossa política vai além, é preciso dialogar com os outros ministérios e pensar nas 32 milhões de pessoas que já são idosas e aquelas pessoas que estão no processo de envelhecimento”, encerrou o secretário nacional.
Paula Maciulevicius, da Setescc