O último dia da oitava edição da Flib (Feira Literária de Bonito) enfatizou o empoderamento feminino e indígena por meio da literatura. No sábado (6), mesas e rodas de conversa focaram em protagonistas femininas e indígenas que escrevem, publicam livros e atuam na área literária em Mato Grosso do Sul. O evento também contou com a participação do ator Antonio Pitanga, que discutiu a relação entre literatura e Cinema Novo, e do conceituado escritor Jeferson Tenório, que falou sobre sua obra. O Governo de Mato Grosso do Sul, por meio da Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura) e da FCMS (Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul), apoiou o evento, auxiliando na infraestrutura e com apresentações de artistas locais.
O ator Antonio Pitanga abriu o dia falando sobre a relação entre literatura e Cinema Novo em uma roda de conversa que atraiu grande público. Para ele, a literatura foi essencial para mostrar o verdadeiro Brasil. “A literatura sempre foi a grande muleta, a possibilidade de mostrar o Brasil como ele é. Em momentos terríveis, como durante o golpe, obras de Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Dias Gomes e Jorge Amado nos deram fôlego e necessidade de afirmação. A censura não podia nos calar, pois estávamos extraindo das obras literárias a fala e o discurso para apresentar o Brasil”.
A roda de conversa “Afros Afetos”, com Rafael Bello, Emerson Armady, Samuel Medeiros, Maria Rosana Gama e Gisleine Dias, trouxe discussões sobre a produção literária afrodescendente. Gisleine falou sobre sua experiência ao escrever e produzir o livro “Produzindo com as Letras”. “Eu sou produtora da agricultura familiar de Ribas do Rio Pardo e vendi 15 mil abacaxis para poder fazer meu livro. Plantei, colhi e vendi na rua, em busca do meu sonho de ser uma escritora reconhecida. Queria mostrar aos jovens que, mesmo com a vida árdua no campo, é possível adquirir conhecimento e fomentar a cultura. É gratificante saber que minha luta não foi em vão”.
No Lounge da Feira Literária, na Praça da Liberdade, aconteceu um Dedo de Prosa com Gleycielli Nonato, Isloany Machado, Sarah Muricy e Adriana Alberti. Gleycielli Nonato falou sobre ser uma escritora indígena e ocupar espaços na sociedade. “Ter uma escritora indígena na maior feira literária de Mato Grosso do Sul é muito importante. Nós, indígenas, precisamos ocupar todos os espaços possíveis, na literatura, nas artes e na academia. Publicar meus trabalhos foi difícil, e só consegui por meio de editais. A literatura fez parte da minha vida como leitora e, depois, como produtora de palavras. Escrever é meu alicerce de reconhecimento de identidade, é minha arma para resistir como originária”.
A Roda de Conversa “Atravessamentos Poéticos – Mulherio das Letras” reuniu Diana Pilatti, Tânia Souza, Eva Vilma, Joseane Francisco e Adrianna Alberti. Tânia Souza explicou a proposta do Mulherio das Letras. “O Mulherio das Letras surgiu em uma feira literária onde várias mesas eram compostas por homens, deixando pouco espaço para mulheres. Decidimos nos reunir e criar um movimento. Hoje, o Mulherio é um grande encontro de mulheres interessadas em produzir livros, envolvendo diagramadoras, editoras e ilustradoras. Queremos resgatar a literatura feita por mulheres”.
Na Conversa com Escritor, “As fronteiras da literatura e as travessias do texto literário”, Jeferson Tenório falou sobre sua experiência como professor e escritor. “A experiência em sala de aula é muito enriquecedora. Você convive com muitas pessoas diferentes, ouve histórias dos alunos, aprende a resolver problemas rapidamente, estuda e pesquisa muito. Esses elementos ajudam na hora da escrita, proporcionando mais criatividade e inventividade. Formar leitores em sala de aula é possível, dando acesso aos livros e fazendo uma boa mediação. Projetos que estimulem o acesso aos livros são essenciais”.
Karina Lima, Comunicação Setesc
Fotos: Samuel Rocha/Setesc