Campo Grande (MS) – Na luta contra qualquer tipo de discriminação e preconceito, destaca-se o ‘Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial’, celebrado neste 21 de março, como um dia para reflexão no combate ao racismo nos locais de trabalho e na sociedade.
A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU) em memória ao violento massacre ocorrido no dia 21 de março de 1960, quando em protestos contra o regime do Apartheid, estudantes Africanos, da cidade de Shaperville, foram violentamente oprimidos pela polícia do regime opressor, que abriu fogo sobre a multidão desarmada resultando em 69 mortos e 186 feridos.
Passados 59 anos, a violência racial e a discriminação continuam sendo praticadas e são uma das faces mais visíveis e repugnantes do racismo mundo afora. “Infelizmente, temos que provar nossa capacidade e força todos os dias. Embora o sofrimento pela discriminação não seja fácil de apagar, isso acaba nos fortalecendo nos nossos momentos de conquistas. Quando jovem me falaram que não poderia ser uma médica por ser negra, me acuei e desisti do que realmente queria. Mas não abandonei a vontade de lutar, de ser reconhecida e cursei contabilidade, me formei, atuei na área e hoje tenho muito orgulho da minha trajetória. Também faço parte de movimentos que lutam pela igualdade racial”, observa Maria José Gomes Duarte, mulher negra, 56 anos, ativista do Movimento Negro, vice coordenadora do Fórum das Entidades do Movimento Negro, e baiana do Acarajé, popularmente conhecida como Zezé do Acarajé.
Inúmeros são os relatos das dificuldades enfrentadas pela população negra. As pessoas se referem às raças e excluem ou incluem pessoas em determinados espaços e posições sociais a partir de suas características físicas.
Levando em consideração que o racismo não é um fantasma do passado e que muito menos foi instinto, o Governo do Estado desenvolve ações por meio da Subsecretaria de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, tendo como objetivo promover a igualdade e a proteção de grupos étnico-racial por meio de ações afirmativas, proporcionando o acesso a políticas públicas da população negra, quilombolas, comunidades tradicionais de matriz africana de terreiros, ciganas e etnias historicamente excluídas, afetados por discriminação e demais formas de intolerância. “A luta contra o racismo tem que ser coletiva, por respeito à cidadania, a vida e a liberdade. Estamos comprometidos em levar conscientização a população e acabar com o discurso de ódio”, ressalta Luciana Azambuja Roca, Subsecretária Especial de Cidadania.
Lembre-se, além de desigualdades materiais, o racismo produz marcas psicológicas profundas. Então pense nisso: Racismo – o que você tem a ver com isso?
“Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele, por sua origem ou ainda por sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender e, se podem aprender a odiar, podem ser ensinadas a AMAR”, Nelson Mandela.
Fique atento!
O racismo não se manifesta de maneira única, podendo ocorrer, principalmente, de três maneiras:
- Quando há crime de ódio ou discriminação racial direta: essa forma de manifestação do racismo é mais evidente. Trata-se de situações em que pessoas são difamadas, violentadas ou têm o acesso a algum tipo de serviço ou lugar negado por conta de sua cor ou origem étnica.
- Quando há o racismo institucional: menos direta e evidente, essa forma de discriminação racial ocorre por meios institucionais, mas não explicitamente, contra indivíduos devido a sua cor. São exemplos dessa prática racista as abordagens mais violentas da polícia contra pessoas negras e a desconfiança de agentes de segurança e de empresas contra pessoas negras, sem justificativas coerentes.
- Quando há o racismo estrutural: menos perceptível ainda, o racismo estrutural está cristalizado na cultura de um povo, de um modo que, muitas vezes, nem parece racismo. A presença do racismo estrutural pode ser percebida na constatação de que poucas pessoas negras ou de origem indígena ocupam cargos de chefia em grandes empresas; de que, nos cursos das melhores universidades, a maioria esmagadora — quando não a totalidade — de estudantes é branca; ou quando há a utilização de expressões linguísticas e piadas racistas. A situação fica ainda pior quando as ações ou constatações descritas são tratadas com normalidade.
Jaqueline Hahn Tente – Subsecretaria Especial de Cidadania (Secid). Foto: Acervo pessoal.