Comemorado no dia 31 de agosto desde 2003, quando foi instituído pela Organização Mundial da Saúde, a Medicina Tradicional Africana, promove grandes impactos positivos para aqueles que a utilizam. Por meio dela, saberes tradicionais e ancestrais, são passados para a população em geral.
Os chás, remédios, terapias e outras formas de cuidados tradicionais são ainda muito utilizados no Brasil, principalmente por Afrodescendentes, Quilombolas e Povos de Terreiro.
A Subsecretária de Políticas Públicas para a Promoção da Igualdade Racial, Vania Lucia Baptista Duarte, comenta que foi criada com chás e que isso é muito natural para ela. “Primeiro a gente toma um chá e depois vai ao médico. Os mais jovens cresceram com remédios, mas nós não.” frisa.
“Eu gosto de tomar chá de erva cidreira, quando estou gripada, o fedegoso, erva doce, hortelã, para tudo quanto é tipo de inflamação. Nós quilombolas costumamos tomar as ervas medicinais até mesmo dentro do Mate”, acrescenta.
Os curandeiros fazem parte da Medicina Tradicional Africana, eles buscam tratamentos e curas com o que se tem no meio ambiente, fauna e flora. Alguns Brasileiros ainda hoje têm a prática de fazer uso de medicamentos naturais, banhos com ervas ou essências.
De acordo com o artigo British Medical Journal a proporção de curandeiros tradicionais na África é de 1 para 500 pessoas, enquanto a de médicos é de 1 para 40 mil. Porém mesmo quem mora em grandes cidades e tem acesso a médicos e hospitais utiliza esse tipo de medicina. Alguns vegetais há anos são utilizados na África para tratar doenças como a malária, estes conhecimentos tradicionais acabam tendo grande influência no Brasil.
A Medicina Tradicional deve ser conciliada com a cultura e com o conhecimento científico, cada um tem o seu devido lugar e papel. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Medicina Tradicional é a soma do conhecimento, da habilidade e das práticas baseadas em teorias, crenças e experiências.
Segundo o estudo publicado no Current Pharmacogenomics and Personalized Medicine em 2018, estima que entre 40% e 50% dos medicamentos que utilizamos hoje em dia contêm princípios ativos retirados de vegetais — e grande parte deles teve a sua descoberta graças à Medicina Tradicional.
Segundo a OMS, ao menos 80% das pessoas na África usam plantas medicinais para cuidar da saúde. Em nações como a República Democrática do Congo, África do Sul e Tanzânia, os estudantes de medicina e farmácia são obrigados a estudar Medicina Tradicional. Importante ressaltar que o uso desses recursos naturais não exclui a relevância da medicina contemporânea.
“KO SI EWE KO SI ORISÁ”
As folhas e ervas são muito importantes para os Povos de Terreiro e Matriz Africana, a nomenclatura que eles utilizam é “KO SI EWE KO SI ORISÁ” (Sem folhas não há Orixás). Para eles tudo tem base nas folhas, elas são a solução de todos os problemas, junto aos conhecimentos que são passados de geração em geração por meio da tradição oral.
Deamir Ribeiro, conhecido como Pai Deá Odé, líder religioso do Àse Imukaindé e Presidente da Federação das Religiões dos Povos de Terreiros MS/ Ajô Nilê, fala dos chás que mais utilizam e as suas funções;
“Quando precisamos nos equilibrar fazemos um banho de folhas de Saião/Folha da Costa (odundun) com alfavaca (efinrin), estamos com má digestão tomamos chá de Boldo (ewê Bàbá), se comemos algo e não caiu bem tomamos chá de Carqueja (kànérì). Para infecção, tomamos chá de Cana-do-brejo (Teteregun). Quem nunca tomou um chazinho de Poejo(Olátoríje)?”, ressalta.
Ele complementa dizendo que sem folha não existe o sagrado, superação, cura e a perpetuação da espécie. Destaca que se depender das tradições destes povos, sejam tradições religiosas ou não, a cultura da “Medicina Alternativa”, nunca vai se extinguir, porque ela é a base da afirmação, existência e sagrado.
Para os povos de terreiros e de matriz africana as ervas são sagradas, servem como alimento (temperos), e também como remédio para renovação e purificação das energias.
“A hoje chamada “Medicina Alternativa” para nós sempre foi o primeiro socorro, e posso afirmar que a cada dia esta tradição está mais firme e forte, não só em nossas comunidades, pois este conhecimento também é passado para sociedade em geral”, relata.
Bel Manvailer, Setescc