Há 2 meses, Viviane Luiza assumiu o cargo de Secretária-Adjunta da Setescc, sendo responsável por coordenar as Políticas Públicas de uma pasta ampla e complexa. Graduada em história e mestre em desenvolvimento local, ela tem um vasto trabalho como historiadora e pesquisadora da cultura indígena com destaque na cultura material, ou seja, tudo aquilo que diz respeito a Cultura, Patrimônio, Museus e Exposições. A antropóloga trabalha com a cultura material indígena do Brasil Central desde 2004.
Em 2014 iniciou o projeto de PHD na Universidade de Manitoba no Canadá, cujo objetivo era trabalhar com as mulheres e associações indígenas de Mato Grosso do Sul. O projeto criou notoriedade e diante disso, em 2017, o diretor de pesquisa, junto com o diretor do Departamento de Antropologia e Historiadores, vieram ao estado, assinar um acordo de cooperação com o governo de Mato Grosso do Sul, para que dessem mais suporte a projetos como o da Secretária, junto com a AMAK (Associação das mulheres indígenas Kadiwéu). Além disso promoveu intercâmbio entre estudantes indígenas de Mato Grosso do Sul com estudantes indígenas canadenses.
Todo o trabalho que realizou por 20 anos de sua carreira, foi de extrema importância para que ela fizesse parte da Setescc hoje. Como pesquisadora dos povos originários, lutou pelos direitos de indígenas LGBT+, mulheres, idosos e indígenas com deficiência. Sua familiaridade principalmente com a luta pela maior visibilidade de mulheres indígenas, fez com que ela adquirisse um vasto conhecimento que é de extrema importância para a gerência no que relaciona-se a Cidadania do Estado de Mato Grosso do Sul.
Como pesquisadora no museu de Etnografia de Viena, na Áustria, produziu três projetos relacionados à etnografia do Brasil, sendo eles: Natterer; Patrimônio Bororo e Mario Baldi. Também participou como co-autora no livro “Mario Baldi- Fotógrafo austríaco entre Índios Brasileiros”. A antropóloga sempre esteve envolvida com a cultura do estado, principalmente com a cultura dos povos indígenas.
Além disso, desempenhou com maestria o trabalho como conservadora de Etnologia no Museu das Culturas Dom Bosco (2004 a 2010). Trazendo várias informações sobre os povos indígenas para o museu. A cultura é produzida pelos povos que compõem determinado local, sobre isso ela comenta: “Os povos fazem a nossa nação, os povos indígenas, quilombolas, imigrantes que fazem o nosso Mato Grosso do Sul. Olhar e estar dentro hoje desse grande laboratório que desenvolve a cidadania e cultura é um grande prazer.”
Barreiras de gênero e Persistência
Para a pesquisadora, o ponto chave tanto de sua vida pessoal quanto profissional é não desistir. Ela comenta que não adianta somente não desistir, precisa haver a ação contrária disso que é a persistência. Vindo de uma família pobre, sempre acreditou que os estudos seriam a única forma de crescer e ter acessos. Com todas as dificuldades que enfrentou no decorrer da sua trajetória, ela não desistiu. “Eu não desisti por todas as meninas e mulheres que vieram antes de mim e que virão depois, eu não desisti porque é uma luta diária.”
Ainda na faculdade quando exigia que os professores desempenhassem bem o seu papel, com qualidade de ensino, era vista como uma líder insubordinada que atrapalhava o andamento do curso. “Eu não desisti, não me silenciei, não tive medo e a qualidade do curso realmente melhorou”. Quando começou sua carreira com 22 anos de idade, sempre ouviu das pessoas a sua volta que ela ainda era uma menina e ‘não sabia como funcionava o mundo lá fora’.
Ao longo de sua profissão, Viviane expõe que sofreu assédio moral e sexual por parte dos homens, mas o que mais a entristece é o assédio que sofreu também por parte das mulheres que ocupavam espaço de poder. A violência de gênero e a invisibilidade social permeiam os ambientes profissionais sendo praticada tanto por homens quanto por mulheres. Lutar contra isso é o propósito de Viviane.
Aspirações
Sobre a sua carreira acadêmica comenta que optou pela declinação do pós-doutorado que faria nos Estado Unidos, a fim de assumir as pastas da Setescc, mas que ainda aspira realizá-lo e não deseja ficar na zona de conforto. “A zona de conforto é um local que eu não faço ser confortável para mim, porque eu sei que na areia que nós temos que formamos as pérolas, ou seja, os incômodos que nos fazem mais fortes.”
Bel Manvailer, Setescc