No Dia Internacional dos Povos Indígenas olhos mãos voltam-se para a comunidade Cachoeirinha, em Miranda. Berço da primeira língua indígena de sinais oficializada no País, é do quintal de uma aldeia terena em Mato Grosso do Sul que sai o exemplo. Como já dizia o poeta Manoel de Barros: “O meu quintal é maior que o mundo”.
Na proximidade do alcance dos olhos que uma família demonstra a grandeza de fazer da sua aldeia um universo para todos. Falando em português, com intérpretes em Libras e também em Língua Terena de Sinais, que Edmara Miguel pega o microfone para contar o que viveu e sinalizou de história e pertencimento. A fala dela aconteceu durante o III Encontro de Surdos Terena, em julho, na própria comunidade Cachoeirinha.
“Como é que a gente sabe que existe uma Língua Terena de Sinais? Antigamente a gente falava que era uma língua caseira, diferente da Libras. Mas hoje, através de pesquisas, a gente sabe que a Língua Terena de Sinais não é mais uma língua caseira, ela existe, porque para ser considerada uma língua deve passar por processos, precisa ter uma gramática e ser bem estruturada”, explica.
É do lugar de fala de irmã de três surdos indígenas, e filha de Ondina Miguel, precursora da comunicação indígena de sinais em Miranda, que Edmara – hoje professora – explica aos ouvintes e surdos que aquela língua que “nasceu” na casa dela se expandiu por toda a comunidade.
“Sabe por que não é mais uma língua caseira, que só a dona Ondina, minha mãe, usa na casa dela e que só os filhos dela vão entender? Porque a partir do momento que um surdo da mesma comunidade consegue se comunicar quando se encontra, então os sinais que eles usam é a Língua Terena de Sinais”, prossegue Edmara.
A comunidade ensina
Intérprete de Libras da SED (Secretaria de Estado de Educação), Karina Oruê é professora, irmã de surdo e quem passou a acompanhar de pertinho o crescimento dos filhos de Ondina.
Os encontros com a mãe começaram na época das apresentações de escola, quando Karina acompanhava o irmão. Hoje, a professora é aprendiz e também mestre na comunicação da Língua Terena de Sinais não só por conhecer os sinais, como também por ser testemunha da história da família.
“Eu sempre trabalhei e enfatizei muito essa questão do respeito à língua deles que é perceptível. Antes das Libras chegarem aqui na aldeia, eles já tinham a Língua Terena de Sinais. Quando eles usavam um sinal na escola, eu jamais falava que estava errado. Eu aprendia este sinal e na minha interpretação eu passava a usá-lo”, conta.
E assim como foram os próprios surdos terena que ensinaram a Língua Terena de Sinais, Everton Miguel, um dos filhos surdos de dona Ondina e a irmã Edmara explicam as principais diferenças entre a terena e a Libras. “Em Libras, a maioria dos sinais vão pegando o alfabeto, já na Língua Terena de Sinais, são icônicos, ou seja, tem muito a ver com o que o surdo está se referindo”, afirmou a professora.
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Paula Maciulevicius, Comunicação Governo de MS
Fotos: Álvaro Rezende