O preconceito e a discriminação em razão da orientação sexual e identidade de gênero e orientação sexual que fere LGBT’s (Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais), também atinge os LGBT’s indígenas sul-mato-grossenses. E com o objetivo de debater ações de promoção de cidadania, a Subsecretaria Estadual de Políticas Públicas LGBT e a Subsecretaria Estadual de Políticas Públicas para a População Indígena, realizaram reunião com representantes deste segmento para falar sobre diversidade sexual – e como levar essa temática para as aldeias.
“Ser indígena e ser LGBT é carregar dois estigmas sociais que causam muito sofrimento. O caminho é fazer com que a dentro dos espaços dos povos indígenas possamos desconstruir preconceitos e levar informações sobre direitos. Quando nos foi proposto essa parceria pela Subsecretária Indígena, abraçamos a causa, é a melhor forma de elaborar políticas públicas adequadas, é escutando as representações que vivenciam aquela realidade”, explica o Subsecretário Estadual de Políticas Públicas LGBT, Leonardo Bastos.
Já a Subsecretária Estadual de Políticas Públicas para a População Indígena Benilda Kadiweu, destacou a importância desse primeiro bate-papo. “Hoje demos o primeiro passo com essa conversa. Escutar as experiências de vida de cada um aqui e pensar em conjunto no que podemos fazer para melhorar a vida da população LGBT indígena é um dos nossos grandes objetivos.”
Segundo a Secretaria Especial de Saúde Indígena (SESAI/MS) no Mato Grosso do Sul a população indígena soma mais de 80 mil habitantes, presentes em 29 municípios. Representados por 08 etnias: Guarani, Kaiowá, Terena, Kadwéu, Kinikinaw, Atikun, Ofaié e Guató.
Participante da reunião o designer Neimar Boe/Bororo, conta que para ele, gay, a aceitação na aldeia demorou a acontecer o que o fez crescer envolto por conflitos existenciais. “Na aldeia que nasci haviam LGBTs indígenas, mas nem todos eram como eu. A aceitação foi um processo lento, com o tempo me aceitei e fui aceito e hoje vivemos em harmonia. Creio que entenderam que não dava para mudar quem eu sou”, diz.
Com uma experiência de vida oposta à de Neimar, a indígena terena, mulher trans Ariela Rodrigues, da aldeia Nova Buriti, falou sobre suas vivências dentro da comunidade. “Eu sempre tive uma mãe muito aberta, durante todo esse processo de descobrimento. Não tive dificuldades com minha família, até o povo da minha aldeia me aceita assim, me chamam até de ‘Bombom”. A dificuldade, o preconceito veio da sociedade. E hoje eu estou aqui porque quero ajudar as pessoas, eu sei que tem LGBTs na aldeia e eles ficam escondidos, eu vim somar aqui para levar esperança, eu estarei na linha de frente dessa luta.”
Na ocasião a professora Tanaíra Sobrinho, lésbica do povo Terena ressaltou a exclusão social vivida pelos indígenas LGBTs. “Pessoas LGBTs é uma realidade presente nas aldeias, nós sempre observamos quanto à discriminação, sexualidade de gênero e pertencimento étnico atravessando a questão de gênero, e no meu caso o machismo, por ser mulher índia e lésbica. Por isso essa articulação é muito importante, precisamos dar voz a essas pessoas, entender o que está acontecendo nesse processo de descobrimento, de aceitação de si, e ajudar.”