Dos 52 anos de Cris, mais da metade deles têm sido levantando a bandeira pelo direito das mulheres. Corumbaense, a atual subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Cristiane Sant’anna de Oliveira, foi encorajada a entrar na luta ainda na universidade, e desde então, coleciona histórias, indignações e batalhas pelas políticas públicas.
“Fui participar de um congresso da UNE (União Nacional dos Estudantes) em 1986, lá me chamaram para uma reunião com a pauta da organização das mulheres, e foi ali que eu me despertei para a situação de cobrar espaços, ampliar a visão e a participação da mulher na sociedade”, recorda.
Embora a consciência tenha vindo durante a graduação, desde muito cedo Cris soube que para ter seu lugar no mundo, teria de lutar mais do que o irmão.
“Eu terminei o Ensino Médio querendo ser cientista, mas como eu morava no interior, precisava me mudar para a capital. Meu pai falou: ‘olha, você não vai, você é menina, deixa seu irmão ir’. Ele era um ano mais novo que eu, naquele momento eu senti que a minha vida não ia ser fácil, sabe?”
Pautas
Pedagoga, Cristiane trabalhou na Prefeitura de Corumbá, município onde também foi gestora de política para as mulheres, organização criada por ela em 2005 e presidida por 12 anos.
“É importante a gente pensar o papel da mulher na sociedade, mas um papel que seja valorizado, reconhecido e entendido que o lugar da mulher é onde ela quiser”, frisa a subsecretária.
Para a subsecretária, falar de violência contra a mulher em 2023 é uma discussão que deve envolver toda a comunidade. “A sociedade precisa ter em mente que em pleno século XXI não é plausível que as mulheres ainda precisem gritar por socorro, que ainda tenham que correr dos agressores, a maioria, pessoas próximas como ex-namorados, ex-companheiros, irmãos e até pais”, enfatiza.
Sobre avanços nas políticas públicas, Cristiane admite que sim, houve progresso em campanhas, acolhimento de mulheres, e até na responsabilização dos agressores, mas os dados seguem alarmantes.
“Os números crescem porque tem mais mulheres denunciando, mas eles também são alarmantes porque vai se percebendo que a gente ainda patina na mudança de comportamento. Quando todo mundo estiver falando a mesma língua, a educação, a assistência e a saúde, aí sim vamos ter mais ações de prevenção e menos de repressão”, avalia.