Vera Lúcia Rodrigues dos Santos, quilombola da comunidade Furnas do Dionísio e presidente da Associação de Pequenos Produtores Rurais. É funcionária pública na Escola Estadual Zumbi dos Palmares, acadêmica do curso Educação do Campo na UFMS e faz parte do movimento negro desde 2014.
Fundada em 1890, a comunidade quilombola Furnas do Dionísio é conhecida pelas belezas naturais, morros, cachoeiras e um povo muito alegre. A agricultura familiar é muito importante para a comunidade, cerca de 90 famílias quilombolas dependem diretamente desse meio para o sustento.
O grupo de mulheres da Associação de Pequenos Produtores Rurais produz e vende derivados da cana de açúcar como melado, açúcar mascavo e a rapadura. Além da famosa farinha de mandioca e artesanatos com produtos sustentáveis; a peneira na trama de taboca, cestas, mandalas de sementes, palha de milho e folha de bananeira. Já participaram por exemplo no Festival da Rapadura, em feiras de Campo Grande e também no Quintal Sesc, com o objetivo de fazer os seus produtos conhecidos e melhorar as vendas.
Segundo Vera Lúcia, as mulheres têm um olhar diferenciado para resolver problemas e pensam de maneira mais abrangente. No entanto, por ser mulher ela sofre discriminação também dentro da comunidade, confessa não sentir-se escutada e respeitada da mesma forma que o antigo presidente. “Todo mundo fica quieto ouve atentamente o ex-presidente, parece que ele tem uma voz, uma autoridade. Quando nós estamos falando, eles ficam conversando entre eles e não levam muito a gente a sério. Mesmo fazendo um bom trabalho e desenvolvendo a comunidade.”
Ela gostaria que as mulheres se sentissem mais poderosas, e percebessem que são elas que fazem a comunidade andar. O seu sonho é que um dia Joana Luiza de Jesus, esposa de Dionísio, fundadora da comunidade assim como ele, seja celebrada. Deseja que as pessoas conheçam a história de Joana, que muitas vezes não é mencionada, e entendam a sua importância para a comunidade. “Ele chegou aqui sozinho? Desbravou isso aqui, fez casa e trabalhou sozinho? Eles tiveram 9 filhos, ela cuidava dos filhos e ainda trabalhava na roça”, comenta Vera.
A presidente da Associação aspira um dia tornar-se diretora da Escola Estadual Furnas do Dionísio, que tem um histórico longo de apenas pessoas de fora da comunidade como professores e diretores. Para ela é importante que pessoas quilombolas assumam papéis de liderança, tanto na escola quanto no hospital da comunidade com médicos e enfermeiros quilombolas. O objetivo é fortalecer a comunidade por meio da educação e mostrar aos jovens que é apenas o início para a ascensão.
Bel Manvailer, Setescc